Parte da aula da
escola Seks.Rf; segundo Ekaterina (de azul), muitas mulheres têm vergonha de se
soltar (Divulgação)
|
Sandro Fernandes, Opera Mundi / Envolverde
Sexo é intuição ou pode ser aprendido? Um
centro de treinamento em Moscou acredita que a atuação na cama pode ser
desenvolvida com aulas e muita dedicação. E Ekaterina Liubimova, diretora da
escola, é direta em relação ao objetivo dos cursos: “ensinar às alunas como
deixar os homens felizes e amarrados a elas”.
Na escola de sexo Seks.Rf, milhares de
russas passam todos os meses pelas carteiras da instituição para melhorar o
desempenho na cama. Por 4,5 mil rublos (R$ 315), é possível participar em uma
das 12 oficinas do curso, com duração média de três horas e meia. Para uma aula
individual, a interessada terá que desembolsar 20 mil rublos (R$ 1,4 mil). E,
por 75 mil rublos (R$ 5,2 mil), é possível fazer um treinamento VIP com
Ekaterina.
O curso de sexo oral é um dos chamarizes do
empreendimento. Nele, pênis de plástico são presos à parede e a aluna pode ver
a atuação através de um espelho. As aulas de sexo tailandês também fazem
sucesso. As mulheres aprendem a controlar os músculos da vagina e a explicar ao
parceiro onde está o ponto G.
A equipe é composta por seis professoras
mais a diretora da escola. Ekaterina é formada em cinema, mas está “há muitos
anos” no mundo da formação sexual. Para que as mulheres se sintam mais à
vontade, homens estão proibidos de entrar na escola. Telefones e câmeras também
não são permitidos.
Há cursos somente com o objetivo de romper
tabus sexuais. “Muitas mulheres têm vergonha de ser mais soltas na cama. A
gente ajuda a que elas explorem mais seus corpos e descubram suas
potencialidades. E também que encontrem o lado mais selvagem dos maridos”,
explica Ekaterina. E completa: “Sexo anal, por exemplo, ainda é visto na Rússia
como algo que não devemos fazer, mas, quando elas descobrem que não tem nada de
errado e que é muito prazeroso, elas me agradecem. E os maridos também”.
Antes mesmo de ser perguntada sobre
feminismo e o papel da mulher na sociedade, Ekaterina se adianta: “Estamos
rompendo as regras e os tabus na Rússia. Nós, mulheres, queremos aprender a satisfazer
os homens, mas também para o nosso próprio prazer”.
“Pioneirismo”
Ekaterina organizava os cursos de maneira
amadora, mas, há um ano e meio, abriu o centro de treinamento de sexo,
“pioneiro”, segundo ela. Todos os meses, pelo menos mil meninas passam pelo
curso de sexo oral, o carro-chefe do empreendimento. A escola já tem uma filial
em São Petersburgo,
segunda maior cidade russa, e na Moldávia, país do antigo bloco soviético. No
próximo semestre, a dona espera abrir outras cinco escolas na Rússia.
Em Moscou, ela já recebeu uma aluna do
Japão e um grupo de empresários do sexo da Califórnia. “As mulheres sempre
sonham em revitalizar a relação com o amor, mas sexo é a linguagem que os
homens entendem”, explica a diretora. “Sexo é a primeira de todas as artes e
uma mulher na cama pode ser atriz e diretora e realizar todas as fantasias
sexuais do parceiro”. Para Ekaterina, “quanto mais técnicas sexuais a mulher
souber, mais chances ela tem de ser um sucesso aos olhos dos homens”.
”Somente
prática”
O lema da instituição – “somente prática” –
pode ser comprovado nas salas de aula. Cadernos e canetas são dispensáveis. Na
mesa da professora e das alunas, há pênis de borracha, bonecos infláveis,
lingeries, camisinhas, lubrificantes e, em cursos mais complicados, champanhe –
para descontrair. Um sex-shop completa o ambiente do curso.
A média
de idade das alunas é de 30 anos. A maioria é casada ou tem um relacionamento
estável, muitas vezes, com filhos. Não há nenhum curso em que homens possam
participar, mas há um que ensina as mulheres a passar as técnicas para os
maridos.
Machismo
“A iniciativa da escola é bastante válida
sim, desde que não fique engessada nos conceitos moralistas do século XII”,
afirma Fernanda Pattaro Amaral, pesquisadora em gênero, identidade e cidadania,
pela Universidade de Cádiz, na Espanha. “Foucalt já dizia que o sexo é
construído e, portanto, aprendido. Eu mesma tive aulas com vídeos pornôs”,
conta.
Segundo Amaral, o curso parece querer
romper alguns conceitos de certo e errado quando o assunto e sexo. “Por
exemplo, temos a polêmica do sexo anal. ‘Moça de família’ não podia praticar
este tipo de sexo porque era contra os tratados religiosos de mais de 800 anos
atrás. E esta ideia prevalece na sociedade contemporânea”.
Amaral não ignora, no entanto, o machismo
presente também na escola, lembrando que a necessidade de agradar ao marido
como um jogo psicológico complicado e doloroso para a mulher. “Isso é violência
simbólica”, citando Pierre Boudieu.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário