Peças continuam aparecendo em praias na Inglaterra mesmo 17 anos após incidente com navio |
Mario Cacciottolo, BBC Brasil
Era 13 de fevereiro de 1997 quando o porta-contêiners Tokio Express foi atingido por uma onda descrita pelo capitão como "uma a cada cem anos", inclinando o navio em 60 graus de um lado e, depois, 40 graus de volta.
O resultado foram 62 contêiners perdidos no mar a mais de 30 km da costa. Um deles levava 4,8 milhões de peças de Lego, cujo destino era Nova York.
Ninguém sabe o que realmente aconteceu depois, ou o que estava dentro dos outros 61 contêiners.
Em pouco tempo, algumas dessas minúsculas peças começaram a aparecer no litoral norte e sul da Cornualha. E elas continuam chegando até hoje.
Ironicamente, muitas das peças de Lego tinham o tema náutico. Assim, vários moradores e turistas começaram a encontrar animais, plantas e outros objetos marinhos em miniaturas.
"Há histórias de crianças no final de 1990 que tinham baldes de dragões na praia, vendendo-os", diz Tracey Williams, que vive em Newquay.
Ela diz que a lista detalhada do contêiner mostra uma grande variedade de peças de Lego, nem todas com o tema marinho. Elas chegam em profusão principalmente depois das tempestades.
Tracey criou uma página no Facebook que documenta as descobertas de Lego, e recentemente recebeu um email de uma pessoa em Melbourne que encontrou uma peça.
O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, dos Estados Unidos, tem monitorado a história das peças de Lego desde que a carga caiu do navio. "O mistério é o lugar onde elas chegaram. Depois de 17 anos, elas só teriam sido encontradas na costa da Cornualha", diz.
Peças de Lego podem ser mortais para aves, diz oceanógrafo |
Equipes realizam limpezas em praias para recolher peças de plástico e outros lixos |
Travessia interoceânica
Pedaços de detritos levam cerca de três anos para atravessar o oceano Atlântico, partindo da extremidade oeste da Cornualha até a Flórida.
Sem dúvida, algumas peças de Lego fizeram esse caminho e é provável que algumas outras tenham se desviado para outras partes.
Ainda não há qualquer prova disso, mas em teoria as peças podem estar em qualquer praia do mundo e poderão continuar viajando pelo oceano por séculos.
"A maior lição que eu aprendi com a história do Lego é que as coisas que vão para o fundo do mar nem sempre ficam lá", disse Ebbesmeyer.
O incidente é um exemplo perfeito de como objetos afundados não ficarão afundados, mesmo se estiverem entro de um recipiente de aço.
Eles podem percorrer o mundo, de forma aleatória, sujeitas a correntes e marés do planeta.
Diversão terrena, perigo marinho
Mas há também um lado obscuro da história, diz ele.
A peça de Lego é divertida em terra, mas no mar pode ser mortal, pois é um veneno para as aves. Um contêiner com 5 milhões de peças de Lego pode ser uma catástrofe para a vida animal.
Caso mostra que objetos afundados nem sempre ficarão no fundo do mar |
"Nós compartilhamos uma preocupação global com o meio ambiente e estamos muito focados em nossos esforços ambientais nos nossos locais de produção para eliminar resíduos que, potencialmente, podem se tornar um problema de lixo marinho”.
Claire Wallerstein coordena o grupo Rame Peninsula Beach Care, que limpa as praias no sudeste da Cornualha.
O grupo já recolheu mais de 1 mil sacos de lixo desde que iniciou suas atividades em março do ano passado. Uma só coleta recolheu 576.664 unidades de sacos plásticos – incluindo 42 peças de Lego.
"Muitas vezes você encontra um monte de Lego quando você está caminhando. É como se fosse uma recompensa por recolher o lixo", disse Tracey."
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