Denise Acabo é uma lendária doceira de Paris e especialista em papillotes |
Joanna Robertson, BBC Brasil
Foi num fim de tarde de setembro. Dentro de uma loja de mel, uma mulher trabalha em uma mesa emprestada. Abro a porta e entro.
Denise Acabo é uma lendária doceira de Paris. Ela tem um aroma corporal único: uma mistura de perfume Chanel com chocolate amargo e mel silvestre.
Vestida com sua roupa habitual, que se assemelha a um uniforme escolar, a senhora de 79 anos está embrulhando chocolates caseiros.
Primeiro, ela coloca na mesa um papel dourado ou prateado com franjas. Sobre ele, vai um papel-manteiga e, no centro, o chocolate em si, acompanhado por um pequeno artefato de papel e pólvora que, ao ser puxado de ambos os lados, "explode" e solta uma pequena fumaça azul.
Um giro em cada ponta e... "Voila, une papillote!", em referência ao mais festivo bombom francês, uma tradição há mais de 200 anos.
"De todas as coisas deliciosas que comemos no Ano Novo, o papillote é minha favorita", ela diz.
"Eles nos fazem rir, e isso é importante, porque, depois das festas, quem sabe o que virá a seguir?"
Orgasmo
Denise canta enquanto trabalha, preparando pedido atrás de pedido.
"Experimente esse", ela pede entre uma música e outra. "Vai te dar um orgasmo."
E realmente tenho um - gastronômico - conforme mordo a casca feita de chocolate doce e um intenso licor de framboesas frescas inunda minha boca.
Denise pergunta, então, se quero ouvir a história dos papillotes.
"Sim", respondo quase sem fôlego, com a boca ainda tilintando com a mistura de licor com chocolate.
Ela para de trabalhar, junta as mãos e começa a falar num estilo de conto de fadas.
Chocolates roubados
"Havia em Lyon, no fim do século 18, um certo confeiteiro, o senhor Papillot. Ele tinha um jovem aprendiz que, por sua vez, estava de olho em uma bela jovem que vivia do outro lado da rua".
Os dois estavam ao mesmo tempo tão próximos e tão longe.
Decidido a conquistar a jovem, o aprendiz começou a roubar os melhores chocolates de seu mestre, um a um.
Para tirá-los da cozinha, ele os disfarçava embrulhando-os com um papel inususpeito por fora, mas repleto de mensagens de amor e promessas de paixão eterna por dentro.
Mas Papillot era um homem de negócios atento e logo notou o sumiço dos chocolates.
Ele passou a vigiar seu aprendiz, mas, quando descobriu o que se passava, em vez de demiti-lo, decidiu parabenizá-lo.
O aprendiz e a jovem se casaram, e Papillot inventou o papillote, fazendo uma fortuna desta forma.
Pólvora
Levantando de sua mesa, Denise termina a história demonstrando a forma correta de manusear o papel que acompanha o bombom.
Com os braços estendidos em frente ao corpo, "para dar a força necessária", ela dá um puxão e bang!
Uma pequena explosão libera uma fumaça azul.
Denise volta ao trabalho, cantando suavemente. Agora, seu aroma é uma mistura de perfume Chanel, chocolate amargo, mel silvestre - e um leve toque de pólvora."
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