A dupla da Brasileirinhas que derruba os pornôs pela internet


Marie Declerq, Folha de S. Paulo


Entre uma sessão e outra de pornografia online, você já parou para pensar como ela existe sendo que nem você e seus amigos pagam para consumi-la? Se você for um fã fiel da pornografia amadora de verdade, a pergunta é fácil de responder porque o gênero não depende necessariamente de dinheiro, mas como fazer quando estamos tratando de produções que dependem de capital para serem realizadas?

A própria Stoya, em uma entrevista para o Motherboard, disse que não gosta muito de você, consumidor irresponsável de streaming. Mas como explicar para uma geração acostumada com a facilidade de conseguir a maioria dos conteúdos de graça na internet que assistir ou baixar um vídeo pirata afeta toda a cadeia de produtores, performers e pessoas que dependem do mercado pornográfico para pagar as contas?
Enquanto a indústria pornô quebra a cabeça para se adaptar à pirataria, a produtora Brasileirinhas usa um método mais "controle de danos" para evitar perder seus assinantes para torrents ou sites de streaming. Um método carinhosamente descrito pelo próprio dono, Clayton Nunes, como "enxugar gelo".


 Quando cobri o PIP (Prêmio da Indústria Pornô) no ano passado, entrevistei o Fábio Dias, diretor de Marketing da produtora e conhecido por representá-la publicamente. O Fabão Pornô, como é conhecido, afirmou que "minha empresa hoje é 100% internet. Tenho 14 sites pagos e vivo de assinatura. Mas, para conseguir viver disso, conto com um parceiro maravilhoso que chamo de Deus, mas cujo nome é Google".

Uma clássica notificação de direitos autorais no XVideos
Uma clássica notificação de direitos autorais no XVideos
O Digital Millennium Copyright Act —ou DMCA para os íntimos— é um conjunto de regras e leis sancionada em 1998 nos Estados Unidos para ampliar a proteção de direitos autorais na internet. Esse recurso começou a ser levado mais a sério pelo Google após a treta do Megaupload, que representou perdas milionárias para os detentores de copyrights. Após isso, alguns sites que hospedam conteúdo adulto, como o Pornhub e o XVideos, entraram em um acordo para incluir um formulário de DMCA para que qualquer conteúdo publicado sem autorização dos detentores seja notificado e retirado dos mecanismos de busca do Google.

Esse procedimento é eficaz, mas é puramente manual. Por isso, a produtora contratou duas funcionárias responsáveis apenas por enviar esses formulários diariamente para o Google ou outros sites de vídeo para derrubar qualquer conteúdo que for reproduzido sem a autorização. "A gente poderia tirar até 5 mil, mas por dia derrubamos em torno de 1.000, 1.500 por dia", explica Rafael Santos, chefe de programação da Brasileirinhas.

Rafael conta que é um trabalho de Sísifo, especialmente quando se trata no XVideos, o maior site pornô da internet. "O XVideos é o cabeça da parada, provavelmente ele deve ser de alguma produtora", questiona Fabão. A produtora Brazzers, na verdade, faz parte da gigante MindGeek que detém o monopólio de grande parte do sites de streaming pornô. O poder da MindGeek é tão grande que até algumas performers evitam comentar sobre ela para não entrarem na lista negra da empresa.
 
Considerando que cada dia é mais e mais difícil viver da pornografia, a Brasileirinhas pode ser considerada uma sobrevivente do capenga mercado brasileiro. A produtora conseguiu superar a era negra da pornografia com a chegada da rede Blockbuster, que matou a distribuição de DVDs nas locadoras de bairro e com ela afastou o primeiro dono da produtora, Luís Alvarenga, que encerrou suas atividades na produtora em meados de 2007.

E eis a segunda crise, que estamos testemunhando até agora, com a disseminação de vídeos ilegais na internet. Pouco restou da era áurea da produtora, que empregava celebridades no naipe de Alexandre Frota, Gretchen, Rita Cadillac e Mateus Carrieri, e os costumava pagar cachês que chegavam a marca dos cinco dígitos. Hoje, a produtora sai na vantagem das concorrentes brasileiras pelo fato de "brasileirinhas" ter se tornado basicamente um gênero popularizado e amplamente procurado pelos consumidores do pornô brasileiro.

No escritório sóbrio da produtora localizado no centro de São Paulo, Fabão explica que esse trabalho de formiguinha realizado pelas funcionárias é o que garante a assinatura dos 11 mil clientes fiéis do site que representa, basicamente, a principal fonte de lucro da empresa.

As assinaturas são o grande incentivo para a empresa dificultar bastante o trabalho de quem está a fim de ver um filme do Frota ou da Vivi Fernandes de graça na internet. "Tinha uma época, antes de a gente começar com esse trabalho, que era muito fácil encontrar esses vídeos. Se o cara hoje quer ver um vídeo da Vivi Fernandes ele tem que ser um bom pesquisador mesmo. Vai ter que pesquisar em blog, fuçar...", conta Rafael.

A utilização do DMCA pela Brasileirinhas começou a ser mesmo levada a sério, segundo Fabão, quando o diretor-geral do Google Brasil, Fábio Coelho, foi detido pela Polícia Federal por não ter retirado vídeos criticando o político Alcides Bernal (PP). "Antes nós mandávamos os links regularmente e nada era retirado, depois dessa notícia o Clayton percebeu que isso começaria a ser levado muito a sério. E foi."

Mesmo assim, todos os dias pipocam cada vez mais sites que utilizam os vídeos da Brasileirinhas sem autorização. São tantos que copiam o conteúdo e a descrição de cada um que em 2013, por um engano o site oficial foi desindexado dos mecanismos de busca. "Tem tanto site que pipoca e copia nossa descrição, que eles [Google] acharam que a gente não era o original. Foi a 'super crise', ficamos quatro meses sem aparecer no Google e tivemos de refazer todo o nosso site para normalizar a situação. Quase enlouqueci nessa fase", conta Fabão.

 Perguntado se existe alguma diferença entre usar o streaming ou baixar torrent, o diretor e o programador são sucintos. "Se não está pagando, já está errado." Fabão termina a frase e aponta para diversos DVDs piratas espalhados em cima da mesa comprados dos vendedores ambulantes —Bastante frequentes na região da República em São Paulo. "É a mesma coisa de comprar DVD pirata. Aliás, eu nem chego perto desses caras porque tenho vontade de sair na porrada com eles [risos]."

A atriz pornô Pâmela Butt, da produtora Brasileirinhas

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