Capa do livro: história do refrigerante passa por momentos simbólicos da sociedade da capital pernambucana |
Helder Lima, da RBA
Um exemplo precursor de resistência cultural frente à globalização é apresentado no livro A História da Fratelli Vita no Recife, que traz a trajetória do popular refrigerante do Nordeste, fabricado durante 80 anos até finalmente sucumbir às forças do mercado em 1972, quando então uma empresa que havia comprado a marca a retirou do mercado consumidor.
Desde que a bebida à base de guaraná passou a
enfrentar a concorrência da Coca-Cola, que em 1941 instalou sua primeira
fábrica brasileira em Recife, o Fratelli Vita sempre foi mais vendido e
ainda hoje está vivo na memória da população recifense, segundo o
escritor e pesquisador Gustavo Arruda, que promove no próximo dia 25 o
lançamento virtual do livro.
“Se você sair às ruas aqui no Recife e gritar
'Fratelli Vita', fatalmente alguém com mais de 40 anos vai responder que
conhece, que é o melhor do mundo”, afirma Arruda, que se dedicou a dois
anos de pesquisas para entender as razões do sucesso da bebida, cuja
“memória gustativa”, segundo ele, está cristalizada entre as gerações
mais velhas e tem sido alvo de histórias e lendas no afã de que a
saudosa bebida volte a ser produzida.
Além de consultar documentos históricos na Fundação
Joaquim Nabuco, no arquivo público do estado e nos arquivos dos jornais
da época, entre outras fontes, Arruda realizou 40 entrevistas com
ex-funcionários da fábrica e parentes dos fundadores da marca, a família
Vita, que veio ao país com o espírito empreendedor que a notabilizou
também pelo talento para produzir cristais artesanais na Bahia, onde
mantinha fábrica também com o nome Fratelli Vita.
Mas é para os jovens que o escritor pretende levar
informação histórica sobre a capital pernambucana. Ao realizar os
primeiros passos da pesquisa, Arruda percebeu que a marca de
refrigerante tinha forte inserção nos anúncios publicitários veiculados
na cidade ao longo de seus 80 anos, tornando-se assim parte do dia a dia
dos recifenses e de sua cultura, com propagandas no rádio, em paradas
de bondes e em painéis em seu interior, em jornais e revistas, e mais
tardiamente, na televisão.
Afora o aspecto que relaciona o refrigerante à
história da comunicação e publicidade, Arruda destaca também os momentos
de importância social e política que encontrou em sua pesquisa, como a
tentativa de invasão da fábrica no período da Segunda Guerra Mundial, já
que ela pertencia a uma família de italianos, cujo país de origem
compunha a aliança nazifascista.
O livro traz também aspectos da imigração no fim do
século 19, quando havia politicamente no país todo um estímulo à
imigração, que buscava “branquear” a população brasileira, referências
da fábrica durante a Revolução de 30 e em outros momentos simbólicos da
sociedade recifense, como o primeiro voo de Zeppelin na cidade, quando a
marca divulgou até mesmo panfletos em alemão para os visitantes
ilustres e concedeu prêmio em dinheiro.
O recorte principal que Arruda faz no livro refere-se
ao Recife, mas a Fratelli Vita tem sua história ligada também a
Salvador, onde na verdade se instalou a matriz da fábrica, em 1902,
produzindo inicialmente águas gaseificadas e passando depois por outros
tipos de bebidas, como os licores, até chegar à fórmula do guaraná que
se tornaria popular no Nordeste, vendido em diferentes sabores, como
limão, pera, e maçã.
A expansão da Fratelli Vita para o Recife se deu em
1912, como estratégia da família italiana para enfrentar a concorrência,
já que naquele momento o mercado soteropolitano era marcado também pela
chegada de um saboroso refrigerante fabricado por uma família de
imigrantes espanhóis. “Recife era a outra capital forte do Nordeste e
por isso conquistar esse mercado foi fundamental para a Fratelli Vita se
manter ativa”, afirma Arruda.
Serviço
A História da Fratelli Vita no Recife
Autor: Gustavo Arruda
Editora: Perse (São Paulo-SP)
Preço: R$ 28 (+frete)
Lançamento virtual: 25 de abril, das 20h às 21h - bate-papo com o autor pelo facebook
A História da Fratelli Vita no Recife
Autor: Gustavo Arruda
Editora: Perse (São Paulo-SP)
Preço: R$ 28 (+frete)
Lançamento virtual: 25 de abril, das 20h às 21h - bate-papo com o autor pelo facebook
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