Da BBC
O pior de tudo é que eu sou um cidadão formado... em matemática! Mas, por algum motivo, enquanto fazer contas avançadas quando estou sozinho é um prazer para mim, qualquer adição simples na frente dos outros é um suplício.
Por isso, senti um certo alívio quando descobri que não sou o único de sofrer de "ansiedade matemática", uma doença psicológica surpreendentemente muito estudada.
Trata-se de algo que o próprio nome já explica: um medo de números. Para muita gente, o mal significa que os anos escolares devem ter sido de um sofrimento ímpar.
Psicólogos agora estão se dedicando cada vez mais a estudar as causas e as consequências dessa estranha "numerofobia".
Vítimas entre crianças e adultos
E, apesar de o problema ter sido mais estudado entre crianças, sabe-se que ele também pode atingir estudantes universitários e adultos. Até mesmo o simples ato de conferir uma nota fiscal pode gerar pânico em algumas pessoas.
Mas, recentemente, os estudiosos conseguiram analisar melhor estas respostas psicológicas. Eles descobriram que, apesar de a matemática não representar um perigo autêntico, ela gera uma reação bastante real e física, incluindo a liberação de hormônios como o cortisol, típico de situações de alerta.
Um estudo até revelou que a espera por um exame de matemática ativa a "matriz de dor" do cérebro – as regiões que respondem quando você se machuca fisicamente.
Medo e desempenho
Mesmo assim, como outros tantos medos, este também é normalmente infundado – e pode, na realidade, prejudicar suas chances de ter um bom desempenho.
Em 2012, um estudo que examinou tomografias do cérebro de crianças de 7 a 9 anos nos Estados Unidos mostrou que aquelas que se sentiam particularmente ansiosas em relação à matemática não só demonstravam uma grande atividade na região das amídalas cerebelosas – que geralmente processa ameaças –, mas também disparava o córtex pré-frontal, a área que lida com o processamento abstrato.
Cientistas acreditam que isso reduz a "memória funcional" de curto prazo, o que significa que as crianças tinham mais dificuldades em se concentrar e resolver os problemas que lhes eram apresentados. Alguns especialistas acreditam que a própria ansiedade em si sufocava a capacidade de realizar os cálculos.
Fugindo de estereótipos
As crianças sentem quando um adulto está nervoso e começam a achar que precisam estar atentas para o perigo.
As expectativas culturais também são parte do problema. As meninas tendem a ficar mais ansiosas do que os meninos, talvez por causa do estereótipo de que elas não são tão boas em matemática.
Enquanto isso, os genes podem também predispor alguém à ansiedade em geral, tornando esta pessoa mais propensa a responder com aversão à matemática e a outros tipos de "ameaças".
Qualquer que seja a origem, uma vez que a semente do medo começa a germinar, ela só tende a crescer: quanto mais ansioso você se sente, pior seu desempenho, mais você evita a matemática e mais preocupado fica quando tem de enfrentá-la.
E psicólogos sugerem que as consequências podem ser graves. As pessoas com ansiedade matemática têm menos chances de entender estatísticas sobre os riscos de fumar ou comer em excesso, por exemplo.
A importância de se abrir
Infelizmente, mais aulas de matemática não parecem aliviar o temor. Mas podem existir outras soluções. Uma delas é a chamada "escrita expressiva", que muitos estudos apontam ajudar quando alguém consegue articular seus medos, afrouxando-os.
Uma classe de crianças que foi incentivada a escrever sobre seus medos antes de um exame melhorou suas notas médias, segundo um estudo.
Outros especialistas buscam maneiras mais sutis de enquadrar o temor, incentivando as crianças a encararem as provas como um desafio e não como uma ameaça, e explicando que o medo não necessariamente reflete uma falta natural de habilidade."
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