“Em Umbigo Sem Fundo, Dash Shaw detalha os efeitos do fim de um casamento com a mesma sensibilidade de Chekhov
Ubiratan Brasil, O Estado de São Paulo
Maggie e David Loony decidem se separar - a notícia atinge em cheio os três filhos, surpreendidos pela dissolução de um casamento que já durava 40 anos. Reunidos pela última vez como família, os Loonys expõem então suas fraturas sentimentais. Com um enredo que lembra o teatro de Anton Chekhov, um obcecado pelo comportamento humano, Umbigo Sem Fundo (tradução de Érico Assis, Companhia das Letras, 720 páginas, R$ 59) parece escrito por alguém experiente em reproduzir a imagem e a alma do ser humano, com suas sutilezas, contradições e banalidades. Seu autor, o americano Dash Shaw, no entanto, tem apenas 26 anos, e gosta de passar boa parte do tempo em casa, desenhando. Ou seja, une uma curta vivência com uma rotina pouco social. Mesmo assim, traça, nos quadrinhos de Umbigo Sem Fundo, os conflitos individuais e familiares com rara percepção.
"Usei minha imaginação para criar a trama", conta ele, que foi um dos destaques da Bienal do Livro do Rio, provocando suspiros (a maioria femininos) quando se apresentou no sábado passado, ao lado dos gêmeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. "Eu queria que cada personagem contasse sua história pessoal, como um diário, e que cada relato se conectasse com o outro." De fato, com a habilidade de variar a condução da narrativa de acordo com o ponto de vista de cada membro da família, Shaw apresenta uma visão multifacetada de uma crise matrimonial.
Com o divórcio iminente dos pais, os filhos aproveitam o último encontro para entender a situação. O mais velho, por exemplo, Dennis, se torna obsessivo em encontrar as causas: passa os dias revirando baús, relendo cartas, rememorando fatos e, com isso, provoca uma revisão no próprio casamento. Já Claire, a filha do meio, demonstra calma quando descobre o plano dos pais - na verdade, uma pretensa tranquilidade, pois se revela uma mãe muito preocupada com os passos da filha, Jil, de quem pretende se reaproximar durante aquele delicado momento familiar.
Finalmente, Peter, o caçula, o mais desnorteado dos Loonys. Solitário, inseguro, é representado por Shaw como um sapo. "Ele espera superar sua paralisia assim como um sapo aguarda o beijo de uma princesa para se transformar em um príncipe", comenta Shaw, que trata o personagem como o "Loony Buraco Negro".
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