Grito é coisa do passado, a moda é protestar pelado

Seja para chamar a atenção ou protestar contra alguma coisa, tirar a roupa parece ser uma boa estratégia

Carina Martins, iG

Se existe uma coisa que chama a atenção, é tirar a melancia do pescoço. Tirar a melancia e todo o resto. A nudez garante olhares de quem passa e fotos nos jornais para assuntos que talvez não conseguissem espaço. Tirar a roupa virou uma estratégia cada vez mais adotada por quem quer chamar a atenção ou arrecadar fundos para algo que considere uma boa causa. Às vezes é “só” arte, como nas multidões peladas registradas pelo norte-americano Spencer Tunick desde 1992. Em alguns casos, como nos já tradicionais calendários para arrecadar fundos e das manifestações contra touradas na Espanha há alguns dias, basta a atenção naturalmente atraída pelos corpos nus. Mas em outros, a nudez tem relação direta ou indireta com a mensagem que se quer passar – é o caso dos estudantes que tiraram a roupa para protestar contra o tratamento recebido por Geisy Arruda, na Uniban, ou dos ciclistas que tentam mostrar, sem roupas, como se sentem desprotegidos no trânsito das grandes cidades.

Pelo terceiro ano consecutivo, um grupo de ciclistas paulistanos colocou a metáfora em prática e saiu pedalando nu, que é como dizem se sentir diante da vulnerabilidade de seu transporte no trânsito das grandes cidades. A terceira edição da Pedalada Pelada, versão brasileira da World Naked Bike, reuniu cerca de 400 pessoas no último dia 13, de acordo com André Pasqualini, diretor-geral do Instituto CicloBR. “Quando a pessoa fica sem roupa ela se sente desprotegida, que é como estamos no trânsito. Além disso, a gente sabe que o nu é tabu, vai despertar polêmica”, explica André. “Há outros movimentos com os quais nos identificamos, como um em que os ciclistas saem de branco e em silêncio, levando velas pelas mortes no trânsito. Bacana, mas chama a atenção? Não chama. É uma estratégia para chamar a atenção tanto da sociedade quanto dos próprios ciclistas que estão dispersos e não conhecem o movimento”.
Foto: Getty Images
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