“O século 21 será espiritual, ou
simplesmente não será”. A frase foi atribuída ao filósofo André Malraux. Ele
desmentiu a autoria, mas nunca contestou o conteúdo da afirmação. Quais são as
principais características da busca espiritual nos dias de hoje?
Luis Pellegrini, Brasil 247 / Oásis
Ela entrou na minha sala com pisar
decidido, sorriso bem aberto, e o jeito de falar de quem já fez vários
cursos de auto-ajuda, de magnetismo pessoal, de controle do poder da
mente. Apresentou-se e disse o nome separando cada sílaba, de modo a deixá-lo
indelevelmente impresso na minha memória: "Olá, como vai? Sou
Fu-la-na-de-Tal". Esse foi o primeiro sinal. Notei que trazia ao
pescoço uma pequena pirâmide de cristal engastada numa moldura de fio de ouro e
pendurada numa corrente fina. O segundo sinal. Quando estendeu-me a mão, lá
estava, brilhando no dedo anular, um anel atlante. Terceiro sinal. Convidei-a a
sentar, já um tanto apreensivo.
Um pensamento quase perverso invadiu minha
mente: “Agora ela vai me contar cada detalhe do encontro de terceiro grau
que acaba de ter com um ser extraterrestre tripulante de disco voador”. Mas uma
outra voz interna, mais sensata, embora menos divertida , tentou enfriar
essas cogitações de mau agouro. A voz disse: “Luis, não seja tão intolerante.
Você vai ficar um velho cansado. Você sabe que expectativas
pessimistas são o melhor meio para se atrair experiências negativas”. Baixei a
cabeça para o conselho do diabo sábio que às vezes surge dentro de mim,
respirei fundo, e encarei o belo rosto à minha frente.
Nos muitos anos em que fui diretor da
revista Planeta, recebi muitas dezenas de visitas do mesm o tipo. Perguntei a
ela em que lhe podia ser útil. Ela queria minha opinião sobre alguns temas de
linha esotérica que, nos últimos anos, tinham se tornado o seu assunto
preferido. Não os temas em si, mas o modo como ela os abordava,
confirmou, para meu desalento, minha primeira intuição. Perguntou-me
sobre anjos e a possibilidade de se entrar em contato com eles para que
resolvessem uma série de problemas; sobre pantáculos cabalísticos - um tipo de
amuleto e talismã protetor na forma de complicados diagramas desenhados; sobre
a energia curativa das pirâmides e dos cristais. Minhas respostas foram, em
geral, evasivas. Embora tenha escrito muito sobre ocultismos, New Age,
Era de Aquário e quetais, nem de longe possuo um conhecimento enciclopédico que
me permita falar, a bel prazer, sobre tudo e qualquer coisa do complexo mundo
das coisas esotéricas. De qualquer forma, o teor da conversa com minha
visitante serviu rapidamente para confirmar um diagnóstico que, desde o início,
se configurara: achava-me na presença de mais uma legítima representante da
legião dos buscadores da varinha de condão. A tribo cada vez mais numerosa
daqueles que procuram nos préstimos de alguma fada madrinha a solução mágica
para os seus próprios problemas, para os problemas dos outros, e os do mundo.
Soluções que, de preferência, não dependam de muito esforço pessoal, mas que
aconteçam assim, no estalar dos dedos, graças à intervenção de algum objeto de
poder, alguma força mágica, alguma entidade benéfica do astral.”
Abobadário Completo, ::AQUI::
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