Arielle e Fausto Silva (Ilustração: Pragmatismo Político) |
"Ativistas cobram retratação pública da Rede Globo
após comentário de Faustão sobre cabelo de dançarina e questionam
silêncio da mídia
O comentário gerou revolta nos movimentos negros. “Diante desse lamentável comentário racista do apresentador Faustão, eu, assim como muitas mulheres negras, não vi como uma brincadeira e não aceito piada com esse teor, ainda mais vindo de uma emissora elitista e racista que é a TV Globo”, afirmou Lilian Araújo, da Frente Pretas, da UNEafro.
Maria Rita Casagrande, das Blogueiras Negras, também criticou a piada do apresentador global. “É inaceitável o racismo mascarado de piada, de gracinha, o constrangimento em nome do riso fácil. A mídia de maneira geral desvaloriza a beleza negra, reserva a nós os papeis que nos cabem segundo o senso comum, a empregada, a iletrada, a prostituta, o bandido, algo que naturaliza o preconceito e só traz prejuízos”, lamentou a ativista.
A comunidade do Facebook Cacheando em Salvador, que exalta a beleza negra, fez uma postagem no próprio domingo protestando contra as palavras de Faustão. A mensagem foi direcionada aos 2,8 mil membros do grupo e acabou ganhando as redes sociais.
“Não aceitamos mais que nos sejam
impostos os padrões eurocêntricos de beleza”, escreveram as líderes da
comunidade. “Não iremos tolerar que racismo seja reproduzido em nenhum
ambiente e em grande mídia então. Não aceitaremos mais que nos ‘eduquem’
para sermos racistas!“
O ativista Romário Régis também comentou o episódio em sua página no Facebook:
“Sim, ele falou. Era tom de
brincadeira, mas em Rede Nacional. Não saiu em lugar nenhum a não ser em
um ou dois sites de notícias que não são os gigantes. Nada de UOL, nada
de Jornal O Dia, Terra, TV Fama, Rede Record, nada. Só veículos de
comunicação alternativa, blogs e páginas de facebook.
Numa fala completamente despercebida,
Faustão soltou naquele tom debochado (nada engraçado) de sempre a frase
“Aquela de cabelo de vassoura de bruxa”, ao falar sobre Arielle Macedo,
bailarina da Anitta e nossa conterrânea, aqui de São Gonçalo.
O caso é grave (ponto). Não só por se
tratar do “black power”, mas vai além, o tom pejorativo da brincadeira
consegue ofender diversas pessoas que estão fazendo a transição para o
cabelo black ou as pessoas que já o possuem. Uma boa retratação pública,
já daria conta num próximo Domingão do Faustão, de no mínimo, respeitar
e assumir que falou MERDA. Não podemos ter apresentadores de TV, num
domingo (todas as idades em casa) de ibope alto, falando dessa maneira,
tendo em vista a representação estética que sua fala possui.
Não vou nem mencionar o fato do pouco
número de negras no ballet do Faustão, Dança dos Famosos (atores e
bailarinos) ou no arquivo confidencial que de agosto do ano passado até
hoje, só teve 2 negros em 18 edições. A disputa vai além, vai na
abertura de apresentadores negros e de origem popular, vai na abertura
da TV para narrativas de negros e de origem popular e vai no
entendimento de que um Black Power não é só um cabelo, mas sim uma
representação de identidade coletiva e individual.
Que ele peça desculpas em Rede
Nacional e que um dia, todas as pessoas com “Vassoura de Bruxa”, como
diz Faustão, tomem ainda mais a TV, para que casos como esse, não sejam
motivos de risada e sim de reorganização do conteúdo da TV“
“A mulher negra, que já sofre a estigmatização por sua cor, por sua condição de mulher, tem sua beleza negada por ter o cabelo crespo e acaba por tornar-se refém do mercado da beleza. O cabelo enrolado é apenas um dos aspectos do negro que “precisa” ser negado ou desconstruído. O mecanismo de supressão de identidade é uma estratégia ideológica que não só tem a finalidade de oprimir, de segregar e dominar, como também impede que o negro dispute em condição de igualdade com branco as oportunidades de ascender socialmente. A imposição do cabelo liso como “referência” ou como “indicativo de zelo/higiene” ajudou a consolidar a indústria da beleza como um dos segmentos mais lucrativos da atualidade. São produtos da indústria do branco, que produz para o branco ter lucro a partir da exploração do trabalho do negro que também consome seus produtos.”
Pragmatismo Político, com Brasil Post e blog da Ana Eufrázio
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