“Pesquisadores canadenses demonstram que ele até dá resultado. Só há um problema: é o resultado oposto
Marcos Coronato, ÉPOCA
Esta é a melhor reportagem de toda esta revista. Não, ainda não é o suficiente: esta é a melhor reportagem que você já leu em sua vida.
Eu não sei que efeito essas frases tiveram sobre você, mas para mim o resultado de dizê-las em voz alta foi tornar a tarefa de escrever esta reportagem mais difícil, e não mais fácil. Deve ser isso que três pesquisadores canadenses queriam dizer com um estudo publicado recentemente no jornal Psychological Science.
Eles resolveram testar a extraordinária tese de que o pensamento positivo faz as pessoas se sentirem melhor – e elas acabam por produzir mais, conquistar seus objetivos, viver melhor. Não há dúvida de que o pensamento positivo deu certo para o pastor americano Norman Vincent Peale. Em 1952, ele escreveu O poder do pensamento positivo e praticamente inaugurou um veio bilionário da psicologia e do mercado de autoajuda.
E agora a pesquisa canadense, feita com jovens universitários, comprovou que, sim, tecer elogios a si próprio dá resultado. Infelizmente, não é o resultado esperado. As palavras doces (“eu sou uma pessoa adorável”) ditas em voz alta até beneficiaram, modestamente, quem já apresentava autoestima elevada. Mas pioraram bastante a autoimagem de quem mais precisava de uma forcinha. Quem tinha autoestima reduzida – medida por um questionário-padrão desenvolvido nos anos 60 – saiu pior ainda da experiência. “Não é que o pensamento positivo baixe a autoestima em geral, mas ele pode prejudicar alguns indivíduos – de cara, aqueles que já têm baixa autoestima”, disse a ÉPOCA uma das autoras do estudo, Elaine Perunovic, ph.D. em psicologia e professora na Universidade de New Brunswick.
Uma das explicações dos autores é que, quando ouvimos afirmações radicalmente opostas àquelas em que acreditamos, nós não apenas nos mostramos céticos, como tendemos a aderir com ainda mais força nossa posição original. Um socialista moderado, ao ouvir um amigo tecer loas ao liberalismo, tende a se sentir mais socialista. Um corintiano bissexto, rodeado por palmeirenses numa roda de bar, tende a demonstrar uma paixão inaudita por seu time. E, na opinião dos pesquisadores, uma pessoa que não se considera lá essas coisas, ao ouvir de si própria que é genial, ou linda, ou adorável, tende a achar-se mais desprezível que antes.”
Abobadário Completo, ::Aqui::
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