“As crises por que passamos não devem ser
necessariamente encaradas como situações negativas, nem como castigos
indevidos. Cada crise representa uma oportunidade real de transformação: é a
própria energia da crise a força que promove mudanças reais na nossa vida
Luis Pellegrini, Oásis / Brasil 247
Para expressar “crise”, os chineses utilizam dois ideogramas, significando respectivamente “risco” e “oportunidade”.
O risco é inerente à crise. Mas é difícil entender que na crise, no risco, na situação perigosa e/ou limítrofe, também está embutida a oportunidade de renovação, de superação, de criação, de aprendizado. Perdas em geral implicam em crises.
Há alguns anos, Marina, amiga dos tempos de colégio, me telefonou em desespero. Não conseguia retomar o rumo da sua vida desde a perda do filho, morto de AIDs aos 24 anos. Marquei com ela um encontro naquele mesmo dia, logo após o expediente. Iríamos ver O pequeno Buda, filme de Bernardo Bertolucci que acabara de entrar em cartaz, e depois sairíamos para jantar e conversar.
Sentados à mesa, num canto discreto do
restaurante, observei seu rosto, ainda belo, embora devastado pela
amargura, pela culpa e o ressentimento. Divorciada há muitos anos, criara
praticamente sozinha o casal de filhos. Sentia-se agora rejeitada pela vida,
cheia de raiva por aqueles que tinham desprezado seu filho devido à natureza de
sua doença. Não conseguia entender “onde falhara”, nem por que fora “punida com
aquele castigo” que considerava indevido.”
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