“Por temer a violência nas ruas e por superproteção, os pais acabam adiando esse momento. Mas a cautela excessiva pode ser prejudicial ao futuro dos filhos
Martha Mendonça, ÉPOCA
A carioca Lívia Araújo, de 12 anos, é uma extrovertida representante de turma. Usa salto alto, batom e vai ao salão de beleza. Enfim, é uma mocinha. Mas Lívia não sai sozinha de casa. Mesmo para a escola, a dez minutos de casa, vai sempre acompanhada pela mãe. “Confio na minha filha, mas as ruas estão violentas e os motoristas não respeitam os sinais”, diz a mãe e funcionária pública Marlucia Nascimento. Sozinha, só no shopping. Marlucia lembra que, em sua própria infância, aos 9 anos ela perambulava só. “Os tempos são outros”, diz. “A hora de soltá-la vai chegar.” Lívia não reclama: nenhuma das amigas anda sem um adulto por perto.
A preocupação de Marlucia, de 48 anos, é legítima. Na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde moram, não há um dia sem um assalto, uma bala perdida ou um crime qualquer. Em 2003, o bairro ficou marcado pela morte de Gabriela Prado, aos 14 anos, num tiroteio no metrô no primeiro dia em que saía sozinha de casa. Nas últimas décadas, a violência modificou a rotina de pais e filhos. Se as crianças da geração anterior começavam a sair sem os pais por volta dos 10, 11 anos, agora raramente os filhos de classe média se aventuram sós pelas ruas antes da adolescência. “Os alunos vêm para a escola sozinhos a partir do sétimo ou oitavo ano”, diz a diretora do Colégio Mopi, a psicopedagoga Regina Canedo. Há 36 anos à frente da escola que fundou, ela diz que normalmente os pais começam a deixar os filhos mais livres quando eles reclamam. “A hora de saírem sós, muitas vezes, é imposta pelos filhos. Os pais têm razão em ter cuidado, mas não podem mantê-los debaixo da asa até a vida adulta”, diz.”
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